Estou a ouvir, desabafa.
A pequena sala ali está, num cantinho da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na rua Camilo Castelo Branco, perto da Rotunda do Marquês, em Lisboa.
É um espaço mínimo, não chegará aos 10 metros quadrados. Ainda assim cabem 3 cadeirões claros, duas mesas e um quadro. Cabia um crucifixo na parede, mas optou-se por não o colocar. Tão importante como a mobília são alguns objetos: de um lado uma taça de rebuçados vermelhos, tipo “Bola de Neve”; do outro uma caixa lenços de papel. O padre, e também psiquiatra, Fernando Sampaio explica a razão de cada objeto.
É mesmo o que o nome sugere: um espaço físico onde há alguém para ouvir alguém que precisa de falar.
“As redes sociais são a prova de que se pode passar muito tempo a transmitir mensagens, a partilhar, ter milhões de amigos, e afinal não ter atenção, contacto físico, proximidade humana. É isso que queremos fazer”, diz a psiquiatra Margarida Neto. É quem vai coordenar o funcionamento do gabinete.
O espaço está aberto a pessoas de todos os credos. Ou de nenhum. A jovens, idosos ou crianças.
Nem consultório, nem confessionário, o gabinete garante total confidencialidade e pretende ser uma resposta a quem atravessa momentos difíceis. “Os casos que precisarem de acompanhamento profissional podem ser encaminhados para outros tipos de respostas”, explica Fernando Sampaio.
Cada pessoa tem cerca de uma hora para desabafar. Em princípio ninguém deve ser atendido mais que três vezes, “precisamente para que o gabinete não seja visto como aquilo que não é: uma consulta de psiquiatria ou de psicologia”. A escuta pode ser terapêutica, mas não cura todos os males.
Em Espanha o primeiro gabinete de escuta abriu em 2008. São agora 30. A maioria dos espanhóis que procura estes espaços é por causa de algum luto. Perdas. Um amor, um amigo ou familiar, um emprego, a esperança.
Contacto para marcações: 213 560 619 ou gescuta@gmail.com
TSF