Ouvir e Escutar
Sandra Chaves Costa, coordenadora do Gabinete de Escuta (GE), um serviço apoiado pelo Patriarcado de Lisboa, com cerca de três anos de atividade, começa por amplificar o sentido da escuta.
“A escuta de alguém significa acolhimento, hospitalidade daquilo que ele é em luzes e sombras, aceitando-o com respeito sagrado e sem julgamento. Escuta significa compreensão. Na verdade, se há uma maneira privilegiada de se ser empático é através da escuta porque nem mesmo uma resposta pode ser considerada empática se não partir de uma escuta ativa do quanto a pessoa nos transmite e diz”.
Na expressão de Santo Agostinho «quero que tu sejas», definição de amor, entende-se o que é a escuta.
“A escuta é um ato de amor. É um ato de amor porque queremos que a pessoa que está à nossa frente, seja. E é um ato de amor também porque implica um espécie de esvaziamento de nós mesmos, que nos esqueçamos de nós e se dê protagonismo a quem escutamos”.
Escutar, é por isso, muito mais do que ouvir.
Sandra Chaves Costa chama a atenção para o facto de todos nascermos com a capacidade de ouvir, nem todos sabermos escutar.
“Na atitude de escuta cultiva-se o prestar atenção ao que o outro diz, mas também ao que ele não diz e nos transmite pela sua maneira de estar, com a sua presença. Escutar implica, por isso, usar o olhar, que possui um enorme poder para recolher mensagens e captar significados”, indica.
Trata-se de uma escuta com o coração: embora seja mais exigente, permite-nos recolher muito mais, pois é mais “mais profunda” e convoca todos os sentidos.
A coordenadora do GE explica que uma pessoa pode falar cerca de 140 a 160 palavras por minutos, mas tem a capacidade de escutar até 600.
“E o que fazemos nós com o tempo que nos sobra? Normalmente usamo-lo para preparar uma resposta, para pensar no que temos para fazer ou onde gostaríamos de estar ou, ainda, para julgar a outra pessoa, enfim, em tudo menos no acolhimento do outro”, lamenta.
No processo de escuta acontece, assiduamente, as pessoas “não conseguirem verbalizar o que sentem”.
“É função de quem escuta recolher o mundo emocional e devolver-lhe, atribuindo um nome aos sentimentos, pois só assim eles podem ser assumidos e integrados. Quem escuta funciona como um espelho que reflete de forma ordenada o que ouve, vê e sente. Desta maneira, a pessoa que é escutada em clima de respeito e confiança, com ausência de julgamento, sente-se compreendida e digna de respeito e continua a explorar-se. Este processo dinamiza um movimento interior que é altamente terapêutico”.
O GE quer ser um serviço de apoio “desburocratizado, portanto de acesso rápido, e de proximidade”, funcionando em três locais distintos: igreja de São Mamede, prestando apoio às pessoas do centro de Lisboa; Centro Comercial Colombo, mais direccionado para os residentes em Benfica, Amadora e linha de Sintra; Oeiras, que presta apoio às pessoas de toda a linha de Cascais.
A pessoa pode entrar em contacto com o centro de Escuta através de um número de telefone centralizado, o 964400675, através de e-mail, gescuta@gmail.com, ou através do nosso site, www.gabinetedeescuta.pt
O GE funciona com uma equipa de voluntários, “com formação específica para o efeito, que presta apoio psico-emocional através do método de Relação de Ajuda, que lança mão dos conceitos da Psicologia Humanista e de Counselling e por isso exige uma formação formal”.
O objetivo, esclarece Sandra Chaves Costa, é “acompanhar alguém para que se faça responsável pela sua vida, mobilizando os seus próprios recursos, assumindo os seus limites pessoais, para que seja capaz de enfrentar o seu problema ou consiga viver de forma saudável o que não pode ser mudado”.
Ler artigo completo em https://agencia.ecclesia.pt/portal/a-quaresma-e-os-cinco-sentidos/