O que devemos e não devemos fazer quando apoiamos alguém em luto
O luto não se veste sempre de preto. O luto não é sempre anunciado ou marcado ao sétimo ou ao trigésimo dia. Contudo, o luto sempre chega, por vezes demora-se, outras vezes complica-se e depois vai ou não embora. E é através dele que nos humanizamos, que nos lembramos do que vivemos e ganhamos mais oxigénio para continuar a viver.
O luto é uma experiência profundamente pessoal e única. Cada pessoa reage à perda de maneira diferente, e apoiar alguém durante este processo requer sensibilidade, empatia e respeito. Não há sempre palavras que tenham impacto, nem gestos ou acções a seguir. Contudo, estarmos presentes e sabermos criar espaço para o outro em fase de luto é o mais fundamental.
O que devemos fazer ao apoiar alguém em luto
Escutar ativamente: Estar presente e ouvir. Não ouvir para responder, aconselhar ou oferecer solução para o problema (que não tem cura). Muitas vezes, as pessoas precisam apenas de um espaço para se expressar, desabafar e compartilhar memórias da pessoa que perderam. Escutar com atenção, sem minimizar, sem julgamento, é também evitar a tentação de preencher o silêncio ou de dar conselhos: escutar apenas.
Demonstrar empatia: Tanto nas palavras como nas ações, demonstrar empatia sem reservas ou pressas. Simples gestos como segurar a mão, um abraço ou um olhar compreensivo transmitem solidariedade de forma profunda. Ao comunicar, frases como “sinto muito pela sua perda” ou “estou aqui para o que precisar” podem ser reconfortantes nesta altura.
Respeitar o tempo de luto: O processo de luto é único e pode durar muito mais do que se imagina. Não é possível comparar lutos ou colocar datas de expiração para o processo. Evite pressões como “temos de seguir em frente” que assumem urgência em ultrapassar a dor. Respeitar o tempo de cada um é fundamental.
Oferecer ajuda prática: Em momentos de luto, as tarefas do dia a dia podem parecer esmagadoras. Oferecer ajuda prática, como preparar refeições, cuidar de tarefas domésticas ou acompanhar a pessoa a certos compromissos tal como a agência funerária, o banco, entre outros pode ser extremamente útil. Uma dica prática: em vez de perguntar “O que posso fazer?”, ofereça ações concretas, tal como “Posso passar amanhã em sua casa e levar o jantar?”
Permitir que a pessoa fale sobre a perda: É importante a partilha de memórias sobre a pessoa que partiu. Incentive estas lembranças, se for adequado, e mostre interesse genuíno ao ouvir histórias e memórias.
O que devemos evitar ao apoiar alguém em luto
Evitar clichês e frases prontas: Embora a intenção possa ser boa, frases como “Ele(a) está num lugar melhor” ou “Tudo acontece por uma razão” podem soar insensíveis e parecer que está a desconsiderar a profundidade do sofrimento. O importante é a presença e a empatia, logo, não há necessidade de tentar encontrar um “lado positivo” nesta experiência tão humana que é a perda.
Não forçar o luto a seguir um padrão: O luto não segue uma fórmula ou cronograma. Alguns podem chorar muito, outros reagem com silêncio ou podem fechar-se temporariamente. Estas reações são normais e cada pessoa deve lidar com o seu luto como fizer mais sentido.
Evitar distanciamento: Por medo de dizer a coisa errada ou de não saber como nos comportarmos perante o sofrimento do outro, acabamos por nos afastar de alguém em luto. Esse distanciamento pode ser sentido como abandono numa fase vulnerável. Mesmo que não saibamos o que dizer, estar presente e disponível éo mais importante.
Não minimizar a dor: Evite comparações do tipo “No meu caso foi muito pior” ou “Pelo menos não foi tão sofrido como a pessoa X”. Cada perda é única, e frases assim podem parecer uma desconsideração.
Não apressar o processo de cura: Dizer coisas como “Está na hora de seguir em frente” não ajudam directamente. O luto é um processo longo e, para muitos, é algo que nunca desaparece completamente, apenas se transforma com o tempo.
O luto requer paciência, empatia e compreensão. O mais importante é estar presente de forma sincera através da escuta, do apoio prático e emocional sem minimizar ou tentar solucionar a dor do outro. Embora o luto não tenha uma solução mágica, é através das relaçõees, da comunicação com sensibilidade e cuidado que ajudamos o outro nas fases de maior vulnerabilidade. Se sente que está a precisar de ajuda, contacte o Gabinete de Escuta.
Margarida Rafael é doutorada em psicologia clínica, é psicóloga, consultora de psicologia organizacional e voluntária no Gabinete de Escuta de São Mamede. Contacto: drmargaridarafael@gmail.com ou 936750984.
Artigo publicado no site 7Margens – https://setemargens.com/o-que-devemos-e-nao-devemos-fazer-quando-apoiamos-alguem-em-luto/