Solidão: o que fazer?
A solidão é uma experiência humana universal inevitável. Por mais que tenhamos relações próximas, há sempre uma parte da nossa experiência que é solitária, individual. Muitas vezes mal vivida pode influenciar a saúde mental e emocional.
O ser humano foi criado, à semelhança de Deus que é trino, e por isso também nós fomos criados para a comunhão de pessoas. É na relação e na proximidade com outro ser humano que nos realizamos enquanto pessoa. Até para o nosso desenvolvimento precisamos de estar em relação com outros. Um bebé não sobrevive sozinho e torna-se humano na relação com os outros. Em bebés aprendemos a andar dando os primeiros passos em direção aos pais, aprendemos a falar para falar com os pais. É na relação com os pais que aprendemos a gerir os nossos sentimentos, a empatia, que recebemos valores, construímos ligações afetivas. É através desta base relacional que adquirimos os recursos para nos relacionarmos num contexto social progressivamente cada vez mais alargado e complexo.
Quando parece que não há quem se preocupe connosco, nem disponível para estar connosco, quando ninguém nos procura, abate-se sobre nós uma tristeza em forma de sentimento de isolamento e solidão, uma sensação de vazio e de estarmos incompletos, uma inquietação indesejável que gera sofrimento. Sentimo-nos sozinhos quando consideramos que as nossas relações são insuficientes e/ou têm uma qualidade inferior ao que desejamos e não vemos possibilidade de as aumentar ou melhorar.
Que podemos fazer para não sofrer de solidão?
1. É preciso começar por reconhecer e aceitar que há algo que não está bem e que é preciso fazer mudanças.
2. Alterar as rotinas diárias, colocando as relações sociais e familiares como uma prioridade é fundamental. Reservar tempo de agenda para conviver diariamente, seja um telefonema, um almoço com amigos, um jantar de família, um passeio ao fim-de-semana. Quando nos sentimos sozinhos temos tendência para achar que os outros estão demasiado ocupados para estarem connosco, mas quando sentimos a falta da família ou de um amigo, o melhor é fazer um telefonema, um convite. Fomentar a gentileza com as pessoas que vemos com mais frequência acabará por fazer nascer uma amizade, porque a base para a construção das relações é a proximidade e a repetição.
3. Iniciar um passatempo, um voluntariado, praticar desporto ou inscrevermo-nos num curso, para nos mantermos ativos e para sentirmos prazer em fazer atividades de gostamos, para além de que é uma oportunidade para se conhecer pessoas com interesses comuns. Arranjar um animal de companhia também anima o dia a dia, ajuda a passar o tempo e traz sentido à vida.
4. Resignificar a solidão e aprender a estar sozinho, é importante para que a solidão passe de negativa e geradora de sofrimento para construtiva, positiva e geradora de vida interior e relação connosco próprios. Podemos encontrar na solidão o momento em que estamos connosco e em que ficamos com os nossos sonhos e também com os nossos fantasmas, com os nossos objetivos e também com os medos. É nesses momentos de sossego que podemos avaliar e reorientar o nosso trajeto, a nossa vocação, as nossas prioridades e preocupações. Desta forma, entramos em relação connosco próprios e quando estamos fisicamente sozinhos passamos estar connosco, fazemo-nos companhia e podemos ter um diálogo interno. Desta forma poderemos passar por momentos difíceis sem nos sentirmos sós.
5. E por fim, claro, procurar ajuda se não estivermos a conseguir dar estes passos sozinhos. Pode ser com um familiar, um amigo ou um profissional. Fica a advertência de que caso a solidão esteja acompanhada de outros sintomas como a alteração no sono ou apetite, falta de energia acentuada, é preciso dirigirmo-nos a um especialista para despistar se poderá haver outra causa, como a depressão, por exemplo. Mas na maioria dos casos, a solidão será resultado de uma vida isolada e insatisfatório contacto social quer em quantidade quer em qualidade e felizmente, mudar isso, está nas nossas mãos.
Como se tudo isto não fosse já razão suficiente para abraçarmos com paz a solidão, ainda acresce que o espaço de excelência de oração é na solidão, no recato. Só nesses momentos de silêncio é que podemos escutar a Deus, o que me lembra como o Sr Padre concluiu hoje a homilia: “Deus comunica-se connosco no silêncio do nosso coração”.
Boa solidão a todos.
Mónica Barbosa é voluntária no Gabinete de Escuta, psicóloga clínica, técnica superior de saúde e atualmente responsável por um novo espaço de consultório de saúde mental, onde todos os profissionais partilham uma visão do homem baseada no personalismo.
Contacto: Tel.: 964400675
Artigo publicado no site 7Margens – https://setemargens.com/solidao-o-que-fazer/