Uma arte que pode transformar vidas

Ago 5, 2024

No mundo onde a velocidade e a tecnologia dominam as interações, a escuta atenta e empática tornou-se uma raridade. A sociedade atual valoriza mais o falar do que o ouvir. As tecnologias de comunicação promovem a superficialidade das interações, onde muitas vezes as mensagens são trocadas sem uma verdadeira compreensão mútua.

No entanto, no campo da ajuda terapêutica (saúde mental e física), a escuta não é apenas uma técnica, mas uma arte que pode transformar vidas. A escuta empática é uma prática central em diversas abordagens terapêuticas, destacando-se pela sua capacidade de promover a cura emocional e psicológica.

A escuta empática é a pedra angular da terapia centrada na pessoa. Segundo Carl Rogers, para o crescimento e a mudança genuína ocorrerem, o terapeuta deve oferecer um ambiente de aceitação incondicional, empatia e congruência. A escuta empática, quando eficaz, é mais do que uma técnica; é uma atitude, uma forma de ser. Esta forma de escuta permite que o cliente se sinta verdadeiramente ouvido e compreendido, promovendo um espaço seguro para a exploração e expressão de sentimentos e pensamentos.

A escuta empática não é apenas ouvir as palavras que o outro diz, mas entender e refletir as emoções subjacentes e os significados implícitos. A verdadeira escuta vai além das palavras, abrangendo a totalidade da pessoa, seus sentimentos, experiências e contexto de vida. A escuta empática é um ato de amor e compaixão, que tem o poder de curar feridas emocionais profundas.

Este tipo de escuta ativa promove uma conexão profunda entre escutado e pessoa que escuta, facilitando a cura. Quando alguém se sente ouvido de forma genuína, há uma validação das suas experiências e sentimentos, o que pode ser extremamente terapêutico.

O Papa Francisco diz-nos que escutar é “condição de um autêntico diálogo”, mas saber ou aprender a escutar é um exercício difícil. Escutar verdadeiramente exige prática, paciência e humildade. Esvaziar-nos dos nossos valores, significados e contexto para acolher os do outro.

As competências e atitudes essenciais para se fazer uma verdadeira escuta, segundo J.C. Bermejo são:

  1. Presença Plena: Estar completamente presente no momento, sem distrações ou julgamentos.
  2. Empatia: Capacidade de se colocar no lugar do outro, compreendendo seus sentimentos e perspectivas.
  3. Autenticidade: Ser genuíno e transparente na interação, mostrando-se como um ser humano autêntico.
  4. Aceitação Incondicional: Acolher a pessoa como ela é, sem tentar mudar ou julgar.
  5. Silêncio Ativo: Saber quando falar e quando permanecer em silêncio, permitindo que o outro se expresse plenamente.

Desenvolver a habilidade de escuta empática requer prática e autoconhecimento. É necessário estar plenamente presente no momento, suspender julgamentos e resistir à tentação de oferecer soluções imediatas. A escuta empática é, em essência, uma forma de amor e respeito pelo outro, uma disposição para entrar no mundo do outro sem preconceitos.

O poder da escuta empática, não se limita ao contexto terapêutico ou da saúde. Nas relações interpessoais, familiares e profissionais, a capacidade de escutar ativamente pode transformar conflitos em oportunidades de crescimento e entendimento mútuo. Num mundo onde muitas vezes as pessoas se sentem isoladas e incompreendidas, a escuta empática pode construir pontes e fortalecer vínculos.

É então, essencial cultivar a prática da escuta empática, promovendo espaços onde as pessoas possam expressar-se livremente e serem ouvidas com atenção.

Num mundo carente de conexão autêntica, a escuta, a escuta que cura é mais necessária do que nunca.

 

Referências:

  • Rogers, C. R. (1951). Client-Centered Therapy: Its Current Practice, Implications, and Theory. Boston: Houghton Mifflin.
  • Bermejo, J.C. (2022). La escucha que sana. Diálogo en el sufrimiento. 2ª Ed. Madrid: San Pablo

Márcia Queiroga é gestora de recursos humanos, apaixonada pelo desenvolvimento pessoal das pessoas e das equipas de trabalho. Psicóloga Social de formação e voluntária no Gabinete de Escuta de Oeiras.

Artigo publicado no site 7Margens – https://setemargens.com/uma-arte-que-pode-transformar-vidas/

Foto © Luis Alexander Minchola Jiménez/Pexels